Resenha: Companheiros que partiram

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A proposta do livro é ser um alento àqueles que perderam um animal de estimação e até mesmo àqueles que estão prestes a perder. Um consolo, uma forma de desabafar a dor do luto. Porque sim, perder um pet, um animal com quem convivemos e amamos é digno de nosso sofrimento ao partir tanto quanto um ser humano. Ambos são entes queridos, mas, infelizmente, o luto por animais ainda pode ser alvo de indiferença e até desdém.

O autor nos conforta, dizendo que luto é luto, precisa ser acolhido e merece ser respeitado. Não procurei o livro intencionalmente. Apenas estava na livraria, e ele estava lá na prateleira cujo tema era animais. O título me chamou atenção talvez porque havia perdido recentemente Bob, meu cachorro que não morava comigo. Ao ler o texto da contracapa, me identifiquei. Embora eu tenha recebido os pêsames de algumas pessoas mais próximas, o nó na garganta permanecia. Não hesitei em comprar.

Ao longo das páginas, o autor vai contando histórias de amigos e conhecidos que lhe relataram a dor que sentiram ao se despedir de um animalzinho. Esses relatos se misturam à sua própria experiência e à sua visão sobre o assunto. 

É como uma conversa – e eu acho que o livro cumpre bem esse propósito – entre duas pessoas enlutadas, compartilhando sentimentos e acolhendo suas dores.

Ler outras histórias dolorosas também nos gera certo desconforto. Sofri um pouquinho a cada relato que li. Mas isso não me deixou mais triste. A sensação que temos é a de que não estamos sozinhos e não precisamos nos envergonhar por chorar pela morte de um animal. O objetivo é justamente esse.

Decisão difícil

Algo que me incomodou, porém, foi a forma romantizada de relatar casos de eutanásia, que se repete com frequência no livro. Tutores que tomaram a terrível decisão de sacrificar seus bichos em estado debilitado. Não quero julgar ninguém por ter tomado essa decisão; não consigo imaginar quão difícil deve ser estar nessa posição. O problema é que parece que, por mais difícil que seja, a medida já está naturalizada, e os humanos aceitaram bem o papel de decidir por quanto tempo ainda deve viver seu animal.

As histórias contadas são expressadas de forma bonita e emocionante; algumas pessoas afirmam saber que era isso o que o animal queria. Eu tenho minhas dúvidas: será que não criamos justificativas para nos sentirmos melhor?

Por que um golden de 18 anos (!!!) que, no fim da vida demonstrava a mesma alegria da juventude, ainda que não conseguisse mais levantar, queria morrer? Por que não decidimos interromper a vida de um ser humano irreversivelmente doente, mas achamos que podemos fazer isso com os animais?

Não tenho respostas para essas e outras perguntas. São questões éticas, morais e filosóficas complexas, sobre as quais não tenho posição definida. Além do mais, nunca passei pela situação de ter que optar por uma coisa ou outra – e espero não precisar -, por isso me esforço para não julgar quem já passou. Até porque os casos são diversos e talvez existam aqueles em que não há outra saída.

Sei que esse é um assunto polêmico, que renderia uma longa discussão. Repito, não tenho uma opinião formada e rígida sobre isso. Mas achei relevante registrar meu incômodo com essa parte importante do livro. Aliás, se alguém tiver alguma opinião sobre essa questão, fique à vontade para compartilhar nos comentários.

Todos os bichos

Bom, voltando ao livro como um todo, uma coisa incrível na obra é que as histórias não se restringem aos pets. Animais não domésticos também têm sua vez. A ideia é mostrar que toda perda pode causar dor, desde que tenhamos amor por quem parte. E, dessa forma, o autor nos leva a refletir também sobre a senciência dos bichos: todos eles – não só nossos pets – são capazes de criar laços e demonstrar emoções.

Então, ele conta o caso da baleia que carregou seu filhote morto por 16 dias – mostrando que animais de outras espécies além da humana também são capazes de enlutar-se -; do leão que reconheceu seus “pais” humanos mesmo depois de voltar para a selva, do crocodilo que se afeiçoou ao homem que salvou sua vida, da perua que pedia carinho à sua protetora. São casos impressionantes e que, embora não se repitam diariamente, são o bastante para nos fazer repensar nossa relação com os animais.

Muitos desses casos, inclusive, é possível ver, o autor disponibiliza as urls dos vídeos que registraram o momento relatado.

Recomendo a leitura mesmo para quem nunca enfrentou a perda de um bicho querido, mas principalmente para quem, assim como eu, a enfrentou. Sintam-se abraçados e tenham a certeza de que seu luto é válido.

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