O amor pode ter 3 patas

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Alguma dúvida? Leia mais para se apaixonar! (Foto: Isabela A./True Feelings Photography)

O amor tem quatro patas, ouvimos dizer por aí. E é verdade. Mas, na história de hoje, vamos descobrir que o amor também pode ter apenas três patas e em nada deixa a desejar.

O blog Casa com Bicho conta hoje como uma cachorrinha obstinada foi em busca do destino que sonhava e como foi seu encontro com Rafaella. Uma mudou a vida da outra. Uma história apaixonante, que vai fazer festa no seu coração.

Alguns meses antes de ser adotada, Lóli (que ainda não tinha esse nome) era mais uma viralatinha perambulando pelas ruas em Osasco (SP) e, como acontece com tantos animais, um dia, foi atropelada e deixada para trás. 

Sem socorro, a cachorra se viu obrigada a seguir em frente, mesmo com uma das patas dianteiras muito machucada. Com muita dor e mancando, ela seguiu seu rumo. Não há opção para quem não consegue pedir ajuda. 

Mas a sorte sorriu para aquela pequena caramelinha de cerca de 10 quilos, quando uma protetora a enxergou e agiu. Resgatou a cachorra e buscou tratamento para a pata ferida. Foi feita uma cirurgia, mas sem muito resultado, pois a fratura já havia calcificado. A viralata, que nessa época ganhou o nome de Kushina, continuou a arrastar a pata no chão e expressava grande incômodo com aquele membro inutilizado. 

Foi quando os veterinários responsáveis pelo caso decidiram pela amputação da pata.

“Eles falaram que, depois da amputação, parece ter virado uma chave em Lóli que a tornou a cachorra mais feliz do mundo. Aquilo era um peso para ela, ela só queria se livrar daquela pata que doía. Foi a melhor coisa que fizeram por ela, foi um alívio”, conta Rafaella.

Aqui, Lóli já está no conforto do seu novo lar

A conquista

Não muito distante dali, na capital paulista, Rafaella, uma jovem advogada que morava sozinha, enfrentava a solidão causada pela pandemia. Em 2021, os sintomas de ansiedade e depressão se intensificaram.

“Comecei a procurar cães para adoção nos perfis das ONGs. Mas descobri um aplicativo que expõe animais em busca de adoção, tipo um Tinder dos bichos. Nesse caso, o objetivo é unir cães e gatos a seus futuros tutores”, explica.

Kushina sentiu um grande alívio ao ter a pata removida

Um dos cães que deram “match” com Rafaella foi Kushina. Pela foto, ela viu que a cachorra não tinha uma pata dianteira, mesmo assim a achou linda e fofa. Ao mesmo tempo, não pode evitar preocupações sobre a condição dela. “O que havia acontecido? Ela se virava bem?”, se questionava.

Então, Rafaella marcou um encontro para conhecer a viralata que estimavam ter um ano e meio.

Ao chegar no abrigo em Osasco, a cerca de 50 minutos de São Paulo, Rafaella foi surpreendida por uma cachorra que andava tranquilamente, como se tivesse as quatro patas. Quando se aproximaram uma da outra, Kushina parecia saber que precisava conquistar aquela pessoa. Deitou de barriga para cima, rolou pedindo carinho, usou a única patinha da frente para chamar a atenção.

Foi um encontro de almas

“Fiquei muito emocionada e pensei que precisava dar uma vida melhor para ela”, relembra. Rafaella voltou três dias depois para buscar aquela a quem daria o nome de Lóli.

Vida a duas

Finalmente, juntas, Rafaella e Lóli experimentariam um novo estilo de vida. Para Rafaella, seria a primeira vez tendo um cão em sua casa e sob sua responsabilidade. Ela, que é de São Luís do Maranhão e mora em São Paulo há 15 anos, teve cachorro na infância e adolescência quando morava com os pais. Mas, sozinha, ainda não.

Já para Lóli, seria a primeira vez tendo um lar com segurança, amor e cuidados. Mas, até ela entender isso, as duas passaram por desafios. Assim que chegou no apartamento, a cachorra subiu no sofá e parecia conhecer o espaço, fazendo Rafaella suspeitar que ela teve uma família no passado. Mas as primeiras noites não foram tranquilas. Lóli chorava bastante e arranhava a porta do quarto da nova tutora.

Parecia que já conhecia o sofá

Para piorar, Lóli fugiu durante o passeio em duas ocasiões diferentes. “Por não ter uma pata, ela conseguia se movimentar dentro da peitoral de um jeito a se desvencilhar da coleira. Por sorte, nas duas vezes, alguém conseguiu pegá-la”, relembra o susto.

Depois disso, Rafaella decidiu pedir a ajuda de um adestrador. Com os aprendizados, começou a praticar a comunicação com a cachorra, e uma bonita conexão começou a nascer. Comandos básicos, como fica, vem, senta, ajudaram a iniciar o vínculo entre as duas.

Atenta à comunicação e sem coleira e guia só para o ensaio fotográfico (Foto: Isabela A./True Feelings Photography)

Com treinamento, Lóli passou a aceitar o uso da coleira e não mais se desvencilhar dela, e aprendeu a gostar da própria caminha – das várias que tem pela casa.

Hoje, as duas estão trabalhando na reatividade que Lóli passou a apresentar depois de um tempo e Rafaella já vê melhora.

Sem pata, com sorte

Depois de ter a pata amputada, as protetoras pensaram que Kushina sobraria por anos e anos no abrigo, pois, infelizmente, animais com deficiência dificilmente são escolhidos. Mas aquela adorável orelhuda contrariou as expectativas. Em seis meses, Rafaella a encontrou.

Conheça a história de Clara, que ficou paraplégica, e sua família em Nem desistir, nem abandonar: uma conexão muito além do tempo

“Eu não estava procurando especificamente um cão deficiente, mas olhei para ela e falei ‘cara, é ela’. Nem sabia direito o que ela tinha passado, mas ela era muito fofa e carinhosa”, derrete-se.

Você não se apaixonaria?

A mudança na rotina

Com um animal em sua vida, Rafaella alterou sua rotina. Lóli a faz querer passar mais tempo em casa e abrir mão de algumas coisas.

“Não dá para negar que um cachorro nos limita. Tem que estar em casa na hora das refeições e dos passeios, por exemplo. Mas o tanto de coisas positivas que Lóli me trouxe… Hoje, aprendi a balancear. Se eu for sair à noite, atendo todas as necessidades dela antes e procuro fazer isso no dia que fizer home office. É uma adaptação de rotina”, considera.

Conhecendo os points da cidade

Além disso, a tutora faz com Lóli o máximo de coisas possível, sempre procurando frequentar locais petfriendly. 

“Os cães ficam felizes com pouca coisa. Todo lugar que é para cachorro, ela se acaba, brinca, se joga na água, cumprimenta a todos. Dá gosto de ver. Ela sempre dá valor a tudo. Eu nunca tenho medo de levá-la para os lugares apropriados para ela.  É minha companheira de vida.”

Felicidade é uma piscina de bolinhas

A adoção revigora

A adoção revigorou Lóli. E costuma fazer isso por todos os animais.

Antes da adoção, tristeza no olhar

Rafaella conta que é comum as pessoas se encantarem com Lóli e ficarem surpresas como ela faz tudo igual a um cachorro com quatro patas.

Depois de adotada, não demorou muito para Lóli transformar sua expressão, ganhar peso – hoje está com 13kg, que é seu limite -, ter brilho nos pelos e nos olhos. Ela ganhou um lar e ficou cada dia mais linda.

Outra cachorra, não é mesmo?

Por onde passa, arranca suspiros. Sua fofura, inteligência e carisma chamam atenção nos lugares e já lhe renderam mais de 30 mil seguidores no Instagram. Lá, ela mostra toda sua desenvoltura e liberdade em cima de três patas.

Disposição não falta (Foto: Isabela A./True Feelings Photography)

Aliás, Lóli conquista até pretendentes. É óbvio que ela não está para adoção, mas, eventualmente, surgem “interessados” em adotá-la.

É uma demonstração de carinho, sem dúvida, mas Rafaella já levantou essa discussão no perfil da cachorra. Sobre como Lóli desperta interesse por estar bem cuidada e mostrar como ter três patas não afeta seu dia a dia. No entanto, tantos outros animais com alguma deficiência são preteridos na adoção e acabam passando o resto de suas vidas em abrigos.

Mas nem sempre foi assim. Lóli, como todo cão abandonado, estava abaixo do peso ideal, com o pêlo maltratado e carregava uma tristeza no olhar. Ela também precisou de tempo para se adaptar à nova realidade e começar a apresentar as mudanças físicas e emocionais. Tudo isso mudou com o amor de uma casa e uma família. E assim como mudou para ela, muda para qualquer animal que hoje está nas ruas ou nos abrigos.

Todo cão adotado vai mudar para melhor, vai rejuvenescer, vai revigorar.

Vínculo de milhões

Até o vínculo das duas chama a atenção das pessoas, como se fosse algo natural. Mas, não. Foi construído dia a dia e com trabalho para acontecer. 

Conexão linda de se ver! (Foto: Isabela A./True Feelings Photography)

Lóli chegou em casa e chorou as primeiras noites, enquanto tentava derrubar a porta do quarto para entrar; fugiu duas vezes durante o passeio; não atendia aos chamados da tutora. 

Segundo Rafaella, a cachorra não demonstrava ter traumas, mas no começo percebeu algo que ela chama de síndrome do abandono, que é o medo que o cachorro tem de ser deixado sozinho outra vez. 

Para tentar descobrir algo sobre o passado daquela doce viralatinha, ela resolveu fazer uma sessão de comunicação intuitiva com uma profissional da área. Na comunicação, Lóli disse que não foi abandonada, mas fugiu da casa onde morava, pois, apesar de ter ali o básico para viver, não havia conexão com as pessoas. 

Lóli já teve uma casa antes

Rafaella acredita que a antiga família de Lóli nem a procurou após a fuga. A cachorra foi em busca da felicidade; no meio do caminho, foi atropelada e perdeu a pata, mas encontrou o que procurava, um amor verdadeiro, um porto seguro. 

Babalu também foi atropelada. Leia essa história em “Viralatas também são legais”: uma missão de vida

“Hoje, tenho certeza de que ela não fugiria de mim. Um dia desses, entrei num lugar para fazer um pagamento e a deixei do lado de fora com um amigo. Ela correu dele para dentro do estabelecimento à minha procura. Eu a chamei e ela veio até mim. Mas essa relação não aconteceu do dia para a noite. É muito treinamento”, comenta.

Confiança requer tempo e paciência (Foto: Isabela A./True Feelings Photography)

O vínculo fez Lóli ver em Rafaella seu ponto de referência. É por isso que a cachorra procura e espera a tutora em situações que sente necessidade. Da coleira, ela não tenta mais se soltar.

Foco na humana

Sem crise

“Depois de Lóli, não lembro qual foi a última vez que tive uma crise de ansiedade. Como ela é uma cachorra bastante ativa e demanda de mim várias coisas, me sinto ‘forçada’ a fazer. É um elo de vida. Ela me força a sair, a encontrar as pessoas, a falar com pessoas. Tenho privações por causa dela, mas o lado bom é muito maior”, garante.

Celebrando o primeiro ano de adoção

“Olho para ela e penso ‘tudo que ela passou, a fez perder uma pata, mas não seria a Lóli se tivesse as quatro patas. E me fez ganhar uma vida nova. Tanta coisa legal que já conheci por causa dela… Sem palavras”, diz emocionada.

Para Lóli, não falta uma pata. Sobrava uma pata

Um exemplo disso foi a participação na Pet South America (onde nos conhecemos pessoalmente), em que Lóli e Rafaella foram convidadas a marcar presença no stand de uma marca de mordedores naturais.

Claro que vi Lóli e já quis conhecê-la

O perfil faz Rafaella conhecer muita gente, trabalhar com diversas marcas e, principalmente, levar a mensagem de Lóli para milhares de pessoas. Um cão com deficiência, às vezes, pode ter algumas limitações – e quem não tem? – e precisar de cuidados especiais, mas também pode e merece ser feliz e amado como qualquer outro cão, pode aproveitar a vida e trazer alegria como qualquer outro cão. E, principalmente, quer viver tanto quanto qualquer outro cão.

O impossível é só questão de opinião (Foto: Isabela A./True Feelings Photography)

Como diz o poeta Bráulio Bessa, “o amor tem quatro letras e, por certo, quatro patas”, mas ele também pode ter três. E, acredite, não está faltando nada!

Todo cão quer viver e ser feliz

[Todas as fotos foram enviadas pela tutora; fotos profissionais: Isabela A./True Feelings Photography]

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