Como um coração e um lar se transformaram para acolher uma nova realidade
Uma casa com 14 gatos e para 14 gatos. Assim é a casa de Dailma, que se descobriu gateira há poucos anos. Antes disso, ela jamais imaginou compartilhar sua vida com felinos. Mas, de repente, a mulher se viu rodeada deles e se abriu para esse novo mundo.
A casa de Dailma foi de nenhum gato para 14 gatos em dois anos. Ao todo, são oito fêmeas e seis machos, todos castrados. Como chegaram todos filhotes e com pouquíssimo tempo de diferença entre as chegadas, Dailma estima que todos eles tenham em torno de quatro anos e meio. Dorothy é a mais velha, mas coisa de poucos meses, deve ter cerca de cinco anos.
Como essa família se multiplicou tão rápido? Não, eles não se reproduziram entre si.
Sabe aquela história que todo gateiro conta, que quando se adota um gato, logo se adota o segundo e o terceiro? Pois é, aconteceu com Dailma. Só que no caso dela, cada adoção foi múltipla, ou seja, vários gatos de uma só vez.
Assim, os primeiros a conquistarem o coração da humana foram Josias, Tutty, Moa (machos), Mimi e Xiti (fêmeas), que são irmãos de ninhada.
Depois, veio José, o único que foi adotado sozinho. Em seguida, a sorte apareceu para Dorothy e seus quatro filhos ainda na barriga, Frediii (sim, com 3 is para enfatizar), Lili, Frida e Tigrinha. E, por último, chegaram os três pestinhas (como ela mesma diz), Orlof, Belinha e Sophia.
Além de muitos gatos em pouco tempo, impressiona o fato de que Dailma tinha vários preconceitos contra os bichanos.
“Na minha família, ninguém nunca criou gato e, por toda a vida, ouvi aquelas estórias sobre gatos. Que não gosta do dono, só gosta da casa; que só procura o dono na hora da comida; gato é arisco, arranha, morde”, relembra Dailma.
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Ela admite que, até 2019, detestava gatos. Até que, numa sexta-feira, 31 de janeiro daquele ano, ela chegou do trabalho e tinha uma caixa com sete filhotes na porta de casa. Era uma noite de chuva, e Dailma, então, decidiu colocá-los para dentro. “Posso não gostar, mas também não vou maltratar”, pensou.
Aqueles filhotes, ainda muito pequenos, ficaram “hospedados” na área da lavanderia. Uma vizinha logo adotou um deles. Portanto, ficaram seis.
O início da conexão
Um dos gatinhos estava com uma infecção muito grave no olho. Ver um bicho tão pequeno e já sofrendo tanto tocou o coração de Dailma. Ela começou a cuidar dele pessoalmente. Fazia questão de dar os remédios e fazer os curativos. Em pouco tempo, decidiu que ela mesma o adotaria, imaginando que, se ele perdesse um olho, ninguém fosse querer adotá-lo.
“Ele se afeiçoou tanto a mim, que me escalava pela roupa quando eu chegava do trabalho e ficava em meu ombro. Nós ficávamos grudados”, lembra.
Com cuidados e amor, o olho do gato ficou curado, mas, infelizmente, 15 dias após sua chegada, o filhote morreu devido a uma hepatopatia causada por antibiótico.
“Quando ele faleceu, prometi a ele que cuidaria dos irmãos dele”, e foi assim que Dailma, que odiava gatos, tornou-se “mãe” logo de cinco. Eram Josias, Tutty, Moa, Mimi e Xiti.
Ali, despertava uma versão de Dailma ainda desconhecida.
Nem a recém-gateira poderia imaginar que sua história com os felinos estava só começando. Poucos dias depois do primeiro resgate, no dia 17 de fevereiro do mesmo ano, Dailma encontrou um gato abandonado no mato, muito debilitado, à beira da morte. “Sabe aquele animal que, se não for resgatado hoje, amanhã não acorda vivo? Peguei e trouxe para casa”, conta. Ele ganhou o nome de José. Era a confirmação do seu chamado.
Mais dois meses se passaram e mais gatos cruzariam seu caminho. De férias na praia, num restaurante à beira mar, Dailma avistou uma gata muito jovem e prenha. “Só tinha barriga e olho”, relata. Foi resgatada.
Em maio, a gata prenha, que se chamou Dorothy, pariu quatro filhotes: Frediii, Lili, Frida e Tigrinha.
Então, Dailma foi de 0 a 11 gatos em apenas quatro meses – de fevereiro a maio de 2019. Que missão!
A última ninhada
Um ano depois da caixa abandonada na porta de casa, coisa parecida aconteceu. Dessa vez, deixaram quatro filhotes numa caixa completamente lacrada na porta do trabalho de um amigo. “Era domingo, e naquela rua, era tudo comércio. Eles provavelmente ficaram mais de 24 horas naquela situação”, lembra.
Somente na segunda-feira, eles foram encontrados por esse amigo, que pediu ajuda de Dailma, já que não podia levá-los para casa, e prometeu arranjar adotantes.
Após o primeiro adotante levar um desses filhotes, Frida, filha de Dorothy e então com 10 meses de idade e já castrada, adotou os bebezinhos, Orlof, Belinha e Sophia. “Ela pegou um por um dos filhotes restantes, levou para cima da minha cama, aninhou-se ao lado deles como quem diz ‘daqui ninguém tira’ e assim foi. Ela os lambia, dava de mamar, cuidava, carregava pela casa inteira, corria para socorrê-los se chorassem. Ela literalmente os adotou. Bom, se ela os adotou, eu tive que assumir a responsabilidade”, afirma Dailma, que na verdade é mãe de 11 e avó de 3.
E foi desse jeito que, há quatro anos, eles viraram 14. E segundo Dailma, ninguém entra, ninguém sai.
Uma casa para gente, gato e cachorro
Quem vê essa turma no Instagram (Josias e Cia) percebe um ambiente bem gatificado e uma vida enriquecida de estímulos.
A família mora num sobrado com três pavimentos em Feira de Santana (BA). Antes dos gatos, cada pavimento era uma casa independente, mas quando adotaram os primeiros gatos, as paredes foram derrubadas e o que eram três casas se tornaram uma só.
“Descobri que eles precisavam de mais espaço. Então, iniciei uma reforma, pensando no nosso bem-estar e no deles também”, conta Dailma.
Na época, um guarda-roupa velho prestes a ir para o lixo foi reaproveitado, e suas portas e gavetas viraram prateleiras para os gatos no corredor. Eles amaram!
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Esse foi só o começo. Dailma continuou pensando em como dar conforto para todo mundo. Aí a casa foi se transformando. As mesas de cabeceira, por exemplo, são também caminhas; os cobogós da cozinha ganharam uma espécie de gaiola externa, onde os gatos podem ver melhor a rua.
A família também acolheu a cachorra da sogra, que faleceu. Lupita, uma daschund de 14 anos, adaptou-se rapidamente aos gatos. E o bem-estar dela também foi priorizado, por exemplo, com acessos facilitados, já que ela é idosa.
Hoje, todos os cômodos da casa são adaptados para os gatos; cada canto foi pensado para conter recursos para os felinos.
“Uma casa para ser um lar tem que oferecer conforto, segurança e bem-estar para todos que nela vivem”, acredita.
Aliás, um dos pavimentos é inteirinho dos gatos. Não que eles tenham apenas esse lugar da casa para ficar – é um equívoco muito comum por aí reunir todos os recursos do gato em um só cômodo. Todos os lugares da casa são dos gatos e foram pensados para eles. Mas este, especificamente, Dailma explica, é exclusivamente deles.
Nesta área, além de mais prateleiras, tocas, arranhadores, é onde foi construído o jardim sensorial para os bichanos e onde eles têm licença para bagunçar. Pelo chão, ficam os brinquedos, capim, grãos de ração que escapam dos comedouros interativos…
“Toda a casa é deles. Eles dormem lá embaixo, comem lá embaixo, onde eu estou, eles estão. Mas, à noite, gostamos de nos reunir aqui em cima nesse espaço que é só deles”, conta a gateira.
E se você está se perguntando porque o perfil leva o nome de Josias, Dailma responde: “Josias é bonachão, preguiçoso, amoroso, conquistador. Ele não lambe ninguém, mas ganha banho de todos os outros. Ele é o reizinho da casa, escolhido pelos próprios irmãos felinos.”
Jardim sensorial
Como a casa não tem área externa e Dailma busca sempre oferecer o melhor para os gatos, ela montou um jardim sensorial.
Para isso, forrou parte do chão com grama sintética, posicionou alguns troncos de árvore (laranjeira, mangueira, sucupira), ornamentou com plantas, dispôs tocas feitas com diferentes materiais para eles terem contato com diferentes texturas. As pedras naturais dão um charme a mais ao jardim.
É possível levar um pouquinho da natureza para dentro de casa, não é mesmo?
Aprendendo rápido
Não foi só em pouco tempo que Dailma se viu com 14 gatos. Ela também teve que aprender rápido sobre a natureza dos felinos.
“Sempre tive cachorro e sempre vi como minha responsabilidade oferecer a eles qualidade de vida, conforto e segurança. Quando resolvi ter gatos, não foi diferente. É uma espécie que eu não conhecia, mas coloquei dentro de minha casa. Então, eu tive que me virar e descobrir”, enfatiza.
Responsável, a nova gateira mergulhou no mundo felino. Por sorte, em 2020, um ano após a chegada dos primeiros 11 gatos, as lives bombaram no Instagram. Ela assistiu a diversas aulas de especialistas, fez vários cursos de comportamento felino e busca conhecimento até em artigos científicos.
“Fui consumindo tudo que era sobre gato. Hoje posso dizer que meus gatos têm uma vida tranquila, equilibrada, com saúde e bem-estar. Tudo que eu possa proporcionar e que caiba no bolso”, garante.
A única coisa que não deu tempo de aprender antes de fazer, confessa, foi a introdução de gatos. Eles simplesmente foram chegando e se espalhando pela casa. Para a sorte de todos, a maioria deles já chegou em grupos de irmãos e eram todos filhotes, o que facilitou bastante a adaptação.
Também a oferta e disposição de recursos na quantidade adequada para o número de gatos contribuíram para manter a paz entre todos.
Foi só depois de algum tempo, porém, que Orlof e Mimi começaram a se estranhar. Segundo Dailma, não houve briga de fato, mas às vezes se perseguem e bloqueiam recursos um do outro. “Estamos fazendo todo um trabalho de readaptação entre os dois. Mas está difícil de descobrir o motivo, já que a casa é toda provida de recursos e todos são multiplicados e bem distribuídos”, afirma a tutora, que já buscou ajuda de três comportamentalistas.
Hoje, para evitar que uma briga aconteça, um deles dorme num quarto separado.
Rotina
O dia a dia dessa família costuma ser tranquilo. Todos os gatos se acostumaram à rotina das humanas. Pela manhã, antes do trabalho, eles têm um tempinho para brincar. Enquanto Dailma está fora, eles aproveitam para dormir.
Mas a tutora conta com a ajuda de um petsitter que, durante o dia, vai em casa para cuidar e interagir com eles.
No fim do dia, a família criou o hábito de ficarem todos juntos lá no “andar dos gatos” até a meia-noite.
A comida é oferecida em comedouros interativos, sempre disponível, e também em potes. Pela manhã, ração; e pela noite, sachê.
Sábado é o dia da novidade. “Procuro sempre introduzir uma novidade, um brinquedo ou algo que eu mesma faça em casa. Sento no chão com os materiais para criar alguma coisa e só de fazer isso já é uma festa para eles”, relata.
Catnip
Esse é também o dia de manutenção dos brinquedos. Consertar algum, se precisar, e fazer a troca por outros. Funciona assim, uma parte dos brinquedos fica disponível para os gatos, enquanto outra parte fica “descansando” dentro de uma caixa com catnip. “Chamo isso de marinar. Polvilho todos os brinquedos com catnip nessa caixa e deixo tudo lá fechado por uma semana”, detalha.
No sábado, é hora de trocar. Vêm os brinquedos usados na semana, e vão os brinquedos com catnip. “É uma festa!”
E as madrugadas?
Numa casa com 14 gatos, você pode imaginar que ninguém consiga dormir direito à noite, não é?
Mas, com suas demandas atendidas pelo dia, Josias e companhia seguem a tutora na hora de dormir. A maioria dorme a noite inteira. E mesmo os que acordam vez ou outra, não é para botar fogo no parquinho.
Eles também não despertam às 5h da matina. “Ninguém me acorda. Se eu acordar 10h da manhã no domingo, ficam todos esperando eu acordar”, conta, feliz da vida.
A rotina de todos está muito alinhada, e a tranquilidade prevalece.
Assim é numa casa com duas humanas, um cachorro e 14 gatos.
(Fotos cedidas pela tutora Dailma)
Luiz Carlos Jr.
História linda, emocionante. Os gatinhos não poderiam ter encontrado lar melhor. Parabéns pela dedicação, amor e perseverança, Dailma. Deus abençoe essa família maravilhosa. Ah! Parabéns, também, a Julie, que narrou tão bem a vida de todos. Desejo que o blog cresça cada vez mais e encante e inspire os corações dos leitores.
Cláudia
Que história linda e emocionante. Que surjam tantas outras histórias como essa. Parabéns mais uma vez amiga e a Dailma TB por ter esse coração cheio de amor e pelos gatinhos TB.