O fantástico mundo de Bobi: como um viralata chegou aos 31 anos

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Teve festa de 31 anos para Bobi

Ele se tornou conhecido mundialmente em fevereiro deste ano, quando entrou para o Guinness World Records, o livro de recordes mundiais, com o título de cão mais velho do mundo. E em maio, os holofotes se viraram novamente para ele em seu aniversário de 31 anos.

Eu estou falando de Bobi, o cachorro de Portugal que chamou a atenção do mundo por sua incrível longevidade. 

O que muita gente provavelmente não sabe é que Bobi (pronuncia-se Bobí) é viralata e talvez este seja parte do segredo de sua longevidade.

Sim, os portais, as matérias divulgaram o cachorro como sendo um rafeiro do Alentejo, uma raça portuguesa. De fato, Bobi é um rafeiro, que em Portugal significa sem raça definida – ou viralata no Brasil. Apesar de ter características parecidas com as da raça que lhe foi atribuída, Bobi é filho de uma mãe viralata com um pai desconhecido. Acredita-se que a mãe tenha emprenhado de um rafeiro do Alentejo porque ela costumava acompanhar seu tutor nas viagens à Alentejo, região que fica ao sul do país. Daí vem o adjetivo ‘do Alentejo’ que foi juntado ao rafeiro que é Bobi.

A importância disso talvez esteja na mistura genética, que rendeu a Bobi longos e bons 31 anos e contando. Mas está, principalmente, no significado para seu tutor Leonel: “ele é rafeiro e ponto!”.

Quem é Bobi

Bobi é um cachorro livre. E não só no sentido de ir e vir, mas também livre das necessidades criadas pelos humanos.

Bobi em casa

Ele nasceu e vive desde então numa pequena localidade rural, chamada Conqueiros, habitada por aproximadamente apenas 300 pessoas. A cidade mais próxima, Leria, no centro de Portugal, fica a cerca de 15 km dali; e Lisboa, a capital do país, a cerca de uma hora e meia.

É uma área rural, rodeada de natureza, onde os cães e gatos ainda hoje conseguem ter alguma liberdade com segurança. Agora imagine isso há 15, 20, 25 anos atrás, nos anos dourados de Bobi.

Ele sempre saía para passear pelas redondezas sozinho ou na companhia de amigos caninos, sem a necessidade de uma pessoa ao lado, muito menos de coleira. Percorria toda aquela terra, no mato, no ar fresco. As longas caminhadas, às vezes, o traziam de volta para casa somente no dia seguinte. Este é o hábito de Conqueiros. Os cães de lá vivem assim.

“Aqui era normal, um lugar pequeno, vivemos junto à natureza, nossos cães iam passear e brincar com outros animais”, afirma o tutor.

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Hoje, Bobi goza da mesma liberdade, mas não da mesma disposição e destreza. Ele não corre e não enxerga tão bem como antes. As ruas já não são tão pacatas quanto antigamente. Por isso, agora só sai com Leonel, duas vezes por dia, por cerca de meia hora. A coleira continua fora do passeio, e os amigos caninos continuam se encontrando na vila.

História

Leonel mora com a mãe Maria Silva, na propriedade onde tem uma pequena criação de galinhas e coelhos. A família sempre teve cães. Desde pequeno, Leonel se recorda de ter a casa cheia de animais. Foi quando ele tinha 7 anos que Bobi chegou. Atualmente, Bobi é o único cão da casa, desfruta da companhia de quatro gatos e convive com galinhas e coelhos criados na propriedade – no passado, ele até protegia esses animais de predadores. 

As caminhadas agora são mais curtas

O pai de Leonel tinha o hábito de caçar e levava seus cães para acompanhá-lo na atividade. Um desses cães era Gira, a mãe de Bobi. Ela viveu 18 anos. Outros cães da família chegaram a viver 19, 20 anos. Para eles, que deram aos cães o mesmo estilo de vida, é normal vê-los viver tanto. Antes de Bobi, o cachorro mais velho da família foi Chicote, que morreu aos 22 anos, quando Leonel ainda era criança.

Mas Bobi superou todas as expectativas. Até para seu tutor, é uma surpresa ver um cachorro chegar aos 31 anos de idade. 

Leonel cresceu, portanto, rodeado de bichos, mas Bobi foi o que cresceu junto com ele e, sendo seu companheiro até hoje, é sem dúvida o mais especial. “Bobi era como um irmão, passei minha vida toda ao lado dele. Olhar para Bobi é lembrar de todos os cachorros que já tivemos em casa. Portanto, Bobi tem mais significado do que qualquer outro”, declara.

Longevidade

Trinta e um anos é uma marca incrível. Bobi não é só o cachorro que atingiu a mais alta idade entre todos os cachorros, mas o cachorro mais velho e ainda vivo.

Tamanho feito desperta muita curiosidade. Qual o segredo para uma vida tão longa e tão acima da média? Todos querem saber. Afinal, gostaríamos que nossos cães vivessem ao nosso lado por mais tempo. Para Leonel, porém, não há um segredo ou fator exclusivo para a longevidade do seu cão. Ele elenca um conjunto de fatores: a vida tranquila no pequeno vilarejo cercado de natureza, as longas caminhadas, a alimentação, e claro, o amor que recebeu durante a vida toda e ainda recebe.

Segundo o tutor, Bobi nunca ficou preso. Os benefícios das caminhadas diárias e duradouras, sem dúvida, contam para sua imunidade. Leonel não faz ideia de quantos quilômetros Bobi costumava andarilhar na juventude. “Às vezes voltava mais cansado, talvez por ter corrido mais depressa ou ido mais longe”. 

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Vida livre e natural

E não só as caminhadas, mas também a oportunidade de exercer seu comportamento natural lhe rendeu boa saúde: correr, caçar, marcar território, rolar na grama, se sujar etc.

Vale a máxima: cachorro cansado é cachorro feliz. A vida livre, mas com amparo, poupou Bobi de diversos problemas que abalam nossos cães atualmente, como ansiedade, reatividade e estereotipias, como lambedura e latidos em excesso. Sua saúde mental refletiu na saúde geral. 

Cachorros gostam de caminhar e, livres na natureza, são capazes de cruzar grandes distâncias. Oferecer oportunidades de movimentação aos nossos cães, certamente, impacta positivamente sua saúde. 

Ah, claro, a atividade física frequente por toda a vida o manteve longe da obesidade, o que evitou várias doenças.

Hoje, os passeios continuam diários, mas com a companhia de Leonel. Os dois saem por cerca de meia hora pela manhã e outra meia hora à tarde. Segundo o tutor, Bobi não aguenta muito mais que isso e também bebe bastante água, cerca de um litro por dia.

É nos passeios que Bobi ainda encontra seus pares, como acontece há muitos anos. Ele também se dá muito bem com os gatos da casa, o que para Leonel o torna ainda mais especial.

A alimentação de Bobi é comida natural; nunca comeu ração. O cachorro faz as refeições juntos dos seus humanos: café da manhã, almoço, jantar.

Saúde

Normalmente, Leonel leva Bobi para um check up duas vezes por ano. A idade, é óbvio, tem trazido algumas limitações. “Ele não enxerga, por exemplo, portas de vidros, podendo até esbarrar nelas. Seus movimentos estão mais restritos, por causa de dores articulares, mas nada fora do esperado. Bobi está bem para a idade dele”, relata. 

Aliás, Bobi não faz uso de nenhuma medicação contínua. Também ao longo da vida, Leonel diz que sempre evitou os remédios ao máximo. E, quando necessário, procura opções naturais.

“Nas semanas próximas ao seu aniversário de 31 anos, fomos mais vezes ao veterinário. A grande procura de jornalistas e pessoas interessadas em conhecê-lo afetou sua rotina e o deixou mais cansado para levantar e deitar”, conta. Nessa ocasião, Bobi foi medicado.

O descanso é essencial

Algumas pessoas se espantam com a ausência de sinais aparentes da idade, como pelos brancos que ocorrem em muitos cachorros idosos, por exemplo. Leonel ressalta, porém, que as pessoas não costumam ver outro cachorro com 30 anos ou 29, ou 28. “Hoje, vemos pessoas que correm uma maratona com 80 anos.  Bobi tem muitas limitações, como a artrose, mas ele não tem que estar acabado só porque é velho.”

Personalidade

“Costumo brincar que, se vier um ladrão aqui em casa, em vez de proteger, Bobi vai mostrar a porta de entrada, porque ele é realmente muito carinhoso e adora pessoas.

No aniversário dele, recebemos 100 pessoas aqui em casa e ele adorou. 

É um cão muito sociável, se dá bem com outros cachorros e com gatos. Não é nada bravo.

Nunca se envolveu em brigas com outros cães. Não gosta nem mesmo de ficar próximo quando vê cachorros brigando. Ele logo se afasta. Isso desde sempre. Ele evita conflitos.

É um cão que gosta de praticamente tudo.”

Assim, Bobi é descrito pelo seu tutor.

Bobi adora os gatos

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Recordista

Quando Bobi tinha 25 anos, em 2018, Leonel já sabia que ele era o cão mais velho de Portugal. Mas, até aí, ele não tinha interesse em comunicar isso a ninguém.

Quando, em 2022, Bobi completou 30 anos, Leonel descobriu que ele havia superado um recorde mundial, o de um cachorro australiano que viveu até os 29 anos e morreu em 1939. Então, Leonel mudou de ideia e achou que valia a pena contar ao mundo. 

Este é Leonel, e Bobi bem ao seu lado

Entrou em contato com o Guinness World Records, antigo Guinness Book, para saber o que era necessário fazer; a organização solicitou muitos documentos e exames. “Eu já sabia a idade dele, pois tinha o registro. Mas, para o Guinness, era preciso relatórios de outros veterinários para que se comprovasse a idade dele”, conta. 

Por conta disso, Leonel investiu um bom dinheiro. Foram necessários muitos exames e consultas com diferentes profissionais para atender as exigências de avaliação e comprovação do Guinness. Todo o processo, da inscrição até o reconhecimento, durou quase um ano.

“Contatei o Guinness e reuni aquilo que eles precisavam. Gastei algum dinheiro para não ganhar nada (risos). As pessoas pensam que o Guinness paga alguma coisa. O Guinness não paga nada, exceto em competições, que não é o caso de Bobi. Ele tem apenas o título de cão mais velho do mundo. Na verdade, são dois títulos, o de cão mais velho do mundo e o de cão mais velho vivo”, revela.

“O mínimo que eu podia fazer por ele era lutar. São tantos anos que, eu como dono, tinha que fazer isso por ele. Claro que fiquei muito feliz por ele ser aprovado. É um orgulho hoje o cão mais velho do mundo ser Bobi, ser de Portugal, ser o meu cão”, comemora.

31 anos e contando…

Bobi foi inscrito como rafeiro, que no Brasil chamamos de viralata. Embora tenha sido divulgado para o mundo como rafeiro do Alentejo, Leonel explica que essa foi a designação dada pelo Guinness, porque os avaliadores identificaram traços dessa raça em Bobi. 

“Para mim, ele é rafeiro. Ponto”, enfatiza.

Até porque não se sabe quem é o pai de Bobi.

Agora, para, de alguma maneira, eternizar Bobi, Leonel deseja que ele seja pai. Para isso, vai recorrer à inseminação artificial. “Gostaria que ele fosse pai de forma natural, mas essa forma seria perigosa para ele. A intenção é ficar com todos os filhotes que nascerem”, revela. 

Quem sabe um filhote de Bobi possa repetir o seu feito!

Uma mensagem de paz

Leonel diz não ter palavras para descrever como se sente sendo tutor de um cachorro de 31 anos, não só agora,  mas já quando ele tinha, 25, 26, 27, 28… “É um orgulho muito grande porque, para mim, ele é mais que um cão. Muitas pessoas não entendem isso. Tenho dois irmãos mais velhos, sou o caçula. Bobi sempre foi minha companhia na vida. Olhar para Bobi é lembrar dos tempos que eu ia a pé com meus amigos para a escola, Bobi ia conosco, nós entrávamos e ele voltava para casa. Meu pai já faleceu e também um dos meus irmãos. Portanto, olhar para Bobi é lembrar desse passado todo, dos animais que tivemos em casa, lembrar da minha família que já morreu.Vê-lo aqui hoje em dia é um orgulho muito grande. Claro, esses quadros do Guinness também são um orgulho. Mas olhar para ele e lembrar do passado não tem preço. Essa é a maior gratidão que eu posso ter. Agradecer à vida por me permitir viver 31 anos junto com Bobi.”

Bobi, muito amor e paz

Leonel continua…

“Fico feliz que as pessoas se interessem por Bobi e que vejam o dia a dia dele. Que Bobi seja uma inspiração para as pessoas cuidarem melhor de seus animais, porque eles estão muito maltratados nesse mundo. E eu gostaria muito que Bobi pudesse ajudar outras pessoas a ter um coração melhor. Cuidem de seus animais com amor e carinho a vida toda, é possível que eles vivam 10, 15, 20, 30 anos. Não há nada melhor do que chegar em casa cansado e vê-los à nossa espera com um sorriso na cara. Amem muito os animais, porque eles precisam de nós e não fazem mal a ninguém”, é a mensagem de Leonel e Bobi para o mundo.

Muito fofo, na entrevista

[Todas as fotos (exceto os prints da tela de entrevista) foram enviadas por Leonel]