Você já foi pega(o) de surpresa com uma completa reviravolta na sua vida? Seus planos saíram do trilho e você foi chamada(o) a fazer algo que nunca imaginou?
Assim aconteceu com Mariana e Leonardo, um jovem casal apaixonado por cães e que mora em Novo Hamburgo (RS). Eles adotaram uma viralata de cerca de 5 anos de idade e deram a ela o nome de Clarinha. Planejaram uma nova etapa da vida cheia de amor, companheirismo, risadas e diversão. Para eles e para Rabinho, o cachorro de 2 anos já adotado do casal.
Poucos dias depois, porém, Clarinha sofreu um grave acidente. A partir daí, Mari e Léo se viram numa situação nunca antes vivida ou sequer imaginada. Eles tinham agora, sob sua responsabilidade, uma cachorra que precisaria de tratamentos caros e uma dedicação muito maior do que antes.
O que fazer diante de uma baita missão como essa?
Muitos desistiriam do animal. Quantas cachorros já vimos ser abandonados quando adoecem ou envelhecem?
Para Mari e Léo, estava decretado o maior desafio de suas vidas. Então, eles aceitaram o chamado e mudaram o curso de sua história.
Nada é por acaso
Logo que se casaram, em 2019, Mari e Léo queriam ter um cachorro. Por isso, levaram para morar com eles a companheirinha da adolescência de Mari, Sophia, uma misturinha de poodle com viralata que tinha nove anos. Mas, já idosinha, Sophia não se habituou à nova casa e à nova rotina e acabou voltando a morar com os pais de Mari, onde viveu toda sua vida.
Pouco tempo depois disso, infelizmente, Sophia ficou doente e, num curto espaço de tempo, morreu. Uma tristeza tão grande, que a família chegou até a pensar em nunca mais ter cachorro.
Mas Mari estava acostumada com os peludos, de quem teve a companhia desde a infância. Já Léo sempre quis, mas nunca teve. Seu desejo se realizava de alguma forma ao alimentar os que encontrava na rua.
Tico também é um viralata que merece ser conhecido. Leia Mar, doce lar: a jornada de uma mulher e seu cachorro na praia
Aquele pensamento de não ter mais cachorro só durou até 2021, época em que Mariana não estava trabalhando e ficava sozinha em casa. A vontade de adotar um cachorro veio forte, e o casal decidiu que era a hora.
Então, o universo conspirou a favor e, em duas semanas, um filhote foi abandonado na porta deles. Pronto, era o cachorro que eles tanto esperavam. Ele ganhou o nome de Rabinho.
O filhote era tão pequeno, que o casal pensou que ele não cresceria muito. Mas ele cresceu e hoje tem 16kg. “Eu acho ele grande, mas ele tem uns amigos que são muito maiores do que ele. Perto deles, Rabinho fica pequenininho. Apesar de não pesar muito, ele é caneludo, tem um porte de galgo. Parece uma cruza entre galgo e border collie”, caracteriza Mari, aos risos.
Já Clarinha chegou dois anos depois, em março de 2023. A cachorra, já adulta, apareceu na frente da casa de uma conhecida. “Divulgamos para adoção, mas ninguém se interessou. Ficamos com muita pena em ver uma cachorra tão querida como ela ficar na rua”, conta.
Conquistado, o casal viajou até Sapiranga (RS) para buscá-la. Aquela viralata caramelo, de cinco anos e 17kg, ganhou uma família. E Rabinho ganhou uma grande companheira. O ciúmes do início se tornou parceria. Hoje Rabinho respeita a irmã mais velha, embora ela tenha chegado depois.
Poucos dias após a adoção, porém, durante a estadia numa creche, Clarinha se acidentou. Ela quebrou a coluna e perdeu o movimento das patas traseiras. Ali se iniciava uma longa luta para Mari, Léo e sua viralata recém-adotada.
Pouco tempo, muito amor
O casal nunca soube ao certo o que aconteceu com a cachorra. Porém, sem pensar duas vezes, Mari e Léo buscaram o melhor atendimento para ela. Arcaram com tudo que puderam e tiveram ajuda da creche no começo. Fizeram rifas para conseguir pagar todos os custos com cirurgia, tratamentos e medicações. Até hoje, Clarinha necessita de alguns deles, como fisioterapia. Apesar da evolução, ainda não se sabe se ela voltará a andar como antes.
Paraplégica, Clarinha também não consegue urinar sozinha, precisa de ajuda. Mas cada passinho que dá enche a família de alegria. “Para nós, o que importa é que ela ficou viva. Tudo vale a pena”, enfatiza Mari.
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Porém, não foi fácil. Além dos desafios com a nova realidade da cachorra, Mari e Léo tiveram que lidar com o preconceito. Ouviram de muitas pessoas, inclusive próximas, críticas por estarem se esforçando tanto para cuidar de uma cachorra que, além de viralata, tinha sido adotada havia pouco tempo, e por isso não tinham criado laços.
No entanto, para o casal, a conexão com Clarinha já havia acontecido, independentemente do tempo que a conheciam. “Ficamos desesperados e fizemos de tudo por ela, assim como faríamos por Rabinho, que estava com a gente havia dois anos. Eles são tudo para nós, são como filhos. Somos uma família”, garantem.
“Ouvi de um colega que, com o valor que gastamos com Clarinha, dava para eu ter trocado de carro”, relembra Léo. Por outro lado, eles receberam também muito apoio, de pessoas que eles menos esperavam e até de desconhecidos.
Tinha que ser
“Logo quando ela saiu da rua e teria uma vida boa, sofreu um acidente que a deixou paraplégica”. Esse pensamento foi inevitável para Mari e Léo, especialmente ao ver vídeos de Clarinha brincando antes do acidente. Eles admitem também que, no começo, ficaram com pena dela, achando que ela não seria mais feliz. Mas com o avanço do tratamento e a garra da cachorra, eles viram que estavam enganados.
“Aí entendemos que ela é tão forte, que não merece que a gente sinta pena dela, mas sim que tenhamos força para que ela fique cada dia melhor. E ela é tão feliz quando apoiamos e ela consegue correr e brincar, que eu acho lindo de ver. Temos muita fé de que logo ela vai conseguir andar sozinha de novo”, acredita Mari.
Infelizmente, muitos pensariam em desistir de um animal que passaria a ser totalmente dependente, até para as necessidades básicas. Para Mariana e Léo, no entanto, desistir ou abandonar nunca foi uma opção. Eles fazem tudo que é preciso para dar a Clarinha qualidade de vida e a chance de recuperar totalmente seus movimentos.
E não foi só a rotina da família que se transformou. “Sentimos que isso nos mudou muito como pessoas, como enxergamos as coisas. Antes, nunca pensei que adotaria um cachorro deficiente. Hoje, sei como eles se superam e podem viver como os outros. E também precisam de tanto cuidado e amor quanto qualquer outro, mas não tem tanta gente disposta a dar esse carinho para eles”, afirma Mari.
Eles acreditam que o que aconteceu com Clarinha tinha que acontecer. E que bom que ela estava sob a responsabilidade deles e eles conseguiram fazer o melhor para ela ficar bem como está hoje.
“Muita gente acha bonito, pensa que somos exemplo etc. Mas para nós, não tinha outra coisa a se fazer a não ser cuidar da nossa própria cachorra. É o mínimo, adotamos ela e tudo que ela tiver de passar, vamos passar com ela”, afirmam.
E aquele plano lá do início de uma vida cheia de amor, companheirismo, risadas e diversão, se realizou e se realiza a cada dia. De uma forma diferente, com muito mais determinação, fé e paciência. Mas também como uma experiência mais engrandecedora, construindo laços ainda mais fortes e cumprindo sua missão na Terra.
(Fotos cedidas pela entrevistada Mariana)
Fátima da Silva Pimentel
Que lindooooo, realmente Rabinho e Clara estão em boas mãos ,esses pais que eles arranjaram tem por eles um amor incondicional .😍😍❤️
Cláudia
Que sorte clarinha teve em ser adotada por esse casal humano cheio de amor pra dar. Linda história!