Piggy e Babalu são duas viralatinhas encantadoras que moram em uma casa em Santo André (SP) com seus tutores, Caio Lima e Edna, a mãe dele, e outras cinco “irmãs” caninas. Depois de um passado de abandono, chegaram no novo lar já adultas e fazem parte de uma família que ama os bichos e trabalha pela causa animal há longos anos.
Muitos cachorros já passaram por essa casa. E Caio já passou pela vida de muitos cachorros – e gatos também. “Comecei com 18 anos, depois que perdi meu pai. Minha mãe já era voluntária numa ONG chamada Cão sem Dono. Comecei a ajudar para ocupar a cabeça”, relembra Caio, hoje com 36 anos.
Muitas histórias nesta casa têm os cães como protagonistas. Para Caio, Piggy, uma pretinha roliça de 7kg, e Babalu, uma caramelinha paraplégica de apenas 3kg, têm um propósito especial que vale a pena ser contado: como é bacana adotar viralatas e como é possível cuidar de um animal deficiente.
As duas, que têm em torno de 8 anos, são as estrelas do perfil no Instagram que leva seus nomes. O motivo, explica Caio, é que Piggy é sua companheira fiel, está sempre onde ele está, e aceita tranquilamente ser fotografada e filmada; já Babalu tem o papel de mostrar que, apesar da deficiência, leva uma vida normal.
“Ela precisa de cuidados, como ajuda para expelir a urina e as fezes. Não consegue subir escadas e precisa de proteção das patas traseiras porque se arrasta. Mas essas são as únicas diferenças. O resto, ela faz igual aos outros”, garante Caio. Babalu ganhou cadeirinha para usar nos passeios e logo se adaptou. Nas férias da família na praia, a cadela se esbaldou e até nadou no mar.
Então, é perfeitamente possível proporcionar uma vida feliz a um cão que não anda sobre as quatro patas. É isso que leva Caio a mostrar o dia a dia da dupla no instagram: influenciar as pessoas a adotarem viralatas e também animais deficientes.
Mas elas não são as únicas na casa. Há mais cinco, todas resgatadas: Amanda, Amélia, Bela, Betina e Isa. Ah, no momento, tem também Muleque, um hóspede temporário. Será que ele também vai se tornar definitivo?
O golpe do lar temporário
Piggy e Babalu entraram na vida de Caio e Edna há cinco anos. Os dois cuidavam de um cão resgatado num lar temporário pago e foi lá que conheceram as cachorras. Para ajudar na adoção de Piggy, mãe e filho a levaram para casa. Mas a pequena acabou conquistando a família e aquela se tornou a casa dela também. Pouco tempo depois, Edna resolveu ir buscar no mesmo local Babalu, que já era paralítica.
Segundo Caio, a história que se sabe sobre Babalu é que ela foi chutada por um motoqueiro e teve um esmagamento de vértebra. Embora uma cirurgia pudesse ser feita, pelo tamanho da cachorra e a complexidade da cirurgia, o risco de piorar a situação era maior do que a chance de fazê-la voltar a andar. Então, a família optou por manter Babalu como estava, já que não sentia dor e estava habituada à sua condição.
E as outras? “Betina apareceu na porta, procuramos o dono, mas não apareceu. Amélia veio do Abrigo da Raquel, que ajudo até hoje, também veio para fazermos lar temporário e ficou.
Isa, apesar de ter um dono, rondava pelo bairro, revirava lixos. Retirei daquela casa 14 cães para lares responsáveis. Amanda veio da casa de uma acumuladora que tinha 100 cães e morreu.
Bela foi resgatada prenha, os filhotes foram adotados e ela também, mas depois foi devolvida com a alegação de que fazia muito barulho. Acabou ficando conosco também.”
E assim, depois de alguns golpes do lar temporário, a casa foi ficando cheia de amor. E Caio continuou ativo na causa animal.
Envolvido com a causa
Designer gráfico por formação, Caio fundou, em 2014, uma ONG que tinha o intuito de ajudar outras ONGS da causa animal. “Não havia espaço físico, não era abrigo. Fazia eventos para arrecadar fundos, vendia produtos, arrecadava ração, promovia castração e vacinação, e a ONG foi muito bem durante seis anos. Nos últimos três, me dediquei exclusivamente a ela”, conta.
A ONG cresceu e conseguiu até assessoria de imprensa, o que lhe conferia ainda mais visibilidade e credibilidade. Caio, no entanto, não tirava receita disso. E isso começou a pesar. Ele esperava por patrocínios que até vieram, mas duraram pouco tempo.
Em certo momento, sentindo-se mentalmente esgotado e com as finanças indo mal, Caio decidiu encerrar as atividades da ONG. “Trabalhar na causa animal é estar, todo dia, diante de muita desgraça. É muito abandono, maus tratos, necessidades que se mostram fora do alcance”, revela.
Caio faz um desabafo como quem conhece bem o meio, suas glórias e suas mazelas, e sem desvalorizar o indispensável trabalho que é feito por tantos protetores, ativistas e até mesmo pessoas comuns, como ele.
“Muita gente sonha em ter um lugar para abrigar os animais que vê pela rua, mas a realidade (dos abrigos) é outra. Por mais que a pessoa seja rica, há um limite de animais que ela poderia ajudar com o próprio dinheiro, pois as necessidades são muitas, e tudo é muito caro”, diz.
Nessa jornada, mãe e filho vivenciaram muitas histórias a fundo, como por exemplo a da mulher que morreu e deixou 100 cachorros e 50 gatos dentro de casa “órfãos”. De repente, os dois, que ajudavam a acumuladora pontualmente, se viram responsáveis por resolver a situação. “A gente se revezou para cuidar da casa e dos bichos durante vários meses até que todos fossem adotados”.
Além de tudo, dedicando-se somente a esse trabalho, Caio não tinha renda para seu próprio sustento. Uma coisa se somou a outra e Caio fechou a ONG. Sua dedicação aos animais, porém, se manteve, só que de outras formas.
Foi quando surgiu a ideia de criar sua própria empresa, a Cross Dogs. Pelo nome, já dá para perceber que Caio não deixou de lado seu amor pelos animais. Hoje, ele é um empreendedor que destina parte do lucro das vendas dos seus produtos para a causa animal, além de ter sua própria confecção de roupas, que fabrica as peças da marca própria e também para terceiros.
Uma marca engajada
Caio encontrou na criação de uma marca de roupas a chance de unir três coisas: trabalho remunerado, apoio à causa animal e esportes. Ele é crossfiteiro, surfa e é apaixonado por esportes em geral. Não foi à toa que optou por confeccionar roupas da linha fitness.
Além de roupas masculinas e femininas, a Cross Dogs também comercializa acessórios, como boné, sacola, squeeze e até pelúcia. A empresa está expandindo também para a linha de roupas casuais.
E adivinhe só quem é a gerente da empresa. Piggy, é claro! Lembra que Caio falou que ela fica tranquila diante das câmeras? Pois bem, isso a levou ao posto de gerente da Cross Dogs. E com toda sua beleza e simpatia, Piggy não só figura em posts nas redes sociais, como também estampa camisas e almofadas. É ou não é a estrela da Cross Dogs?!
Hoje, é através da empresa que Caio continua ajudando os bichos. Além disso, segue com a tarefa de conscientização, levando informação sobre adoção responsável, trabalho voluntário e a realidade dos abrigos.
“Tento usar minha força e a da marca para falar da causa animal para mais gente. Ainda faço resgates, mas não apenas isso, como antes. Quanto mais gente se conscientizar, se solidarizar, mais animais serão ajudados”, diz Caio, que considera esta uma maneira mais eficaz de transformar a realidade dos animais.
Ainda assim, não é fácil. “Tenho amigos próximos que sabem que sou da causa e, apesar disso, compram cães de raça e quase sempre sem saber muito sobre o criador”, lamenta.
E é pensando também nessa conscientização que, além do perfil das cachorras, Piggy é modelo da marca, para valorizar a imagem do viralata e mostrar que eles também são legais.
Segundo Caio, a ideia é deixar a confecção para terceiros e se dedicar 100% à Cross Dogs para expandir ainda mais seu alcance, atrair parceiros e levar a palavra da causa animal para mais pessoas.
Recentemente, Caio conta, a marca fechou contrato com uma fabricante automobilística para algumas ações. “Inicialmente, a empresa vai ceder um carro, com o qual eu poderei, por exemplo, levar pacotes de ração a abrigos. Já é um grande passo como marca”, considera. Agora o empreendedor busca apoio de uma marca de ração para doar os pacotes ou de um laboratório para promover campanhas de vacinação.
“A primeira ação com o carro vai ser numa comunidade indígena, uma doação de ração para 170 cães que vivem lá. Para mim é um grande passo, pois é difícil uma empresa apoiar outra empresa”, comenta.
A intenção de Caio é justamente essa, encontrar parceiros que abracem a ideia de somar esforços às ações que ele promove nas ONGs. Consequentemente, o trabalho ganha divulgação, e a corrente vai se espalhando.
Um exemplo a ser replicado
Desde 2010, Caio é voluntário do Abrigo da Raquel e, nos últimos tempos, assumiu uma grande responsabilidade pelo local. O abrigo precisava de muitas coisas, além das necessidades dos cães. “Cheguei lá e encontrei uma situação caótica. Então, mobilizei voluntários e começamos a melhorar as coisas. Foi uma oportunidade para envolver bastante gente”, afirma.
Depois de muito trabalho e ajuda, o abrigo conta com baias adequadas, iluminação, farmácia e até banho e tosa. Os cães estão saudáveis e não falta alimentação. Todos estão bonitos e prontos para ganhar um novo lar. No último ano, 11 cachorros foram adotados.
De acordo com Caio, tudo foi conseguido através da marca Cross Dogs e com o apoio de pessoas que doaram seu tempo ou dinheiro. Outras duas empresas também se uniram ao grupo e fazem uma doação mensal. Um grupo com 60 pessoas se mantém atuante no abrigo, também com doações mensais. Isso permite dar cuidados veterinários contínuos aos cães e fazer reparos na infraestrutura do abrigo.
O maior desejo de Caio agora é conseguir replicar isso para outras ONGs. “É preciso transmitir a mensagem para as pessoas, para que vejam que dá para fazer alguma coisa”, garante.
A missão da empresa de Caio é dar visibilidade à causa animal e reproduzir esse trabalho numa escala bem maior. Como ele diz, é trabalhoso, mas não é impossível. E com Piggy e Babalu juntas na missão, tudo fica mais divertido!
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