
A gente sempre se pergunta o que se passa na vida de um animal abandonado na rua à própria sorte. Alguns conseguem ir se virando, não sem enfrentar muitos perigos. Outros têm a sorte que todos merecem: serem resgatados e ganharem uma segunda chance.
Essa é a história de um cachorro que, ainda jovem, foi abandonado numa rua estranha, longe de casa, na cidade de Bauru, São Paulo. Sem saber o que fazer ou para onde ir, aquele viralata pequeno e de pelos pretos ficou por ali mesmo. Assim se passaram dias. Ele era só mais um com o título “cachorro de rua”, invisível ou um problema de outro alguém.

Mas sem saber, o cachorro já tinha chamado a atenção de uma moradora dali. Ela saía de casa e sempre o notava. Primeiro, pensou que ele tinha dono, pois usava uma coleira velha no pescoço. Até que, numa manhã fria, o encontrou todo encolhido numa calçada. Era a hora: “vou resgatar esse cachorrinho”, decidiu.
Mas não foi tão fácil quanto parecia. Aquele viralatinha, que aparentava ter uns dois anos, correu para fugir daquilo que ele pensava ser mais uma maldade contra ele. Yeda, a moradora que o notou, não se contentou com apenas uma tentativa. Enquanto ele corria, ela o seguia. E já notou que o animal estava mancando. Mesmo assim, o pequeno cachorro se afastava, e foi só cerca de seis quadras depois que ela conseguiu pegá-lo.

“Quando o peguei, olhei ele nos olhos e me apaixonei por ele”. Apesar disso, Yeda confessa que a intenção era cuidar dele e colocá-lo para adoção.
No colo de Yeda, o cachorro gritou aparentando dor. Ela o levou ao veterinário mas a primeira conduta foi vacinar o cachorro. Depois de uns dias, recomendaram a castração e assim foi feito. Mais alguns dias depois, o cachorro começou a ter diarreia e perdeu o movimento das patas traseiras.

Começou, então, a busca por um diagnóstico para Chopinho, que àquela altura já tinha ganhado um nome e uma família – sim, Yeda decidiu ficar com ele. Depois de muitos profissionais e nenhuma resposta plausível, Yeda levou Chopinho numa clínica em outra cidade e, lá, descobriu que, infelizmente, ele foi tratado para doenças que não tinha. Foi então que recebeu a fatídica notícia: Chopinho foi vítima de erro médico e, infelizmente, a situação era irreversível.
A partir daí, o cachorro teve uma piora, e as patas dianteiras também paralisaram. O que podia ser feito eram cuidados para o bem-estar do cachorro. Nessa época, Yeda se recorda de ter recebido em casa um filhote da raça sheepdog, resgatado de um canil desativado. Aquele filhote curioso e cheio de energia, a quem chamou de Grandão, ficava doido para brincar com Chopinho. Ele “focinhava” o cachorro, chamando para brincar, na expectativa de que ele se levantasse dali para correrem juntos. “Isso era um grande estímulo para Chopinho. Grandão foi o maior fisioterapeuta dele”, conta. Os dois se tornaram inseparáveis. Dormem juntos, comem juntos, onde Chopinho está, Grandão está.

Chopinho precisa de ajuda para mudar de posição, para comer e para beber água. Ele consegue, porém, fazer suas necessidades fisiológicas sozinho. Mas, para isso, precisa estar no lugar certo. Aí ele resmunga. É o aviso de que precisa ir ao banheiro (tapete higiênico).
Mesmo com cuidados, a condição física de Chopinho não mudou. Foi um grande desafio na época, pois, 13 anos atrás, não existiam os recursos de hoje, como tapete higiênico, por exemplo. “Ele ficava deitado em cima de panos, que depois eram lavados e reutilizados, ou em jornais”, relembra.

Também não havia muita informação. Mas Yeda não se furtou da responsabilidade que assumiu com aquela vida. Sempre fez tudo ao seu alcance para dar qualidade de vida a Chopinho. “Deixei várias coisas por ele, para cuidar dele, e não me arrependo. Quando saio para trabalhar, minha mãe cuida dele”, diz. E Chopinho, por sua vez, nunca deixou de ser um cachorro feliz.

E quem haverá de dizer que Chopinho não tirou a sorte grande? Resgatado, cuidado e amado, ele divide seu dia a dia com uma “mãe”, uma “avó” e 13 “irmãos” caninos – oito sheepdogs, dois viralatas (uma faleceu ano passado), uma spitz e um pastor suíço.

Como não falar também de seus 111 mil seguidores no Instagram? Em seu perfil, Chopinho e Yeda compartilham informações e experiências para desmistificar os cães com deficiência, mostrando que, com paciência e adaptações, as dificuldades físicas se tornam triviais diante do amor que os animais destinam a nós.
“Há muita desinformação ainda. Tem gente que vê Chopinho e expressa pena, achando que ele está doente. Eu não quero que o vejam assim, ele não é digno de dó. Ele é um cachorro normal, brinca, gosta de carinho, de passear, come super bem, tem ótima saúde, só não caminha sozinho. Ele é especial, não doente”, enfatiza.

Hoje, com cerca de 16 anos, os pelos pretos deram espaço quase que totalmente aos brancos. De personalidade forte, Chopinho sabe o que quer e nunca se deixa abater pela sua deficiência. Sua alegria e perseverança transcendem as barreiras físicas. Um viralata preto – atualmente, grisalho rs – com cerca de 12 quilos, a bordo de sua cadeirinha de quatro rodas conquistou milhares de fãs, chamou a atenção de empresas e espalha sua mensagem de amor pela vida.

Aliás, em 2023, tutora e cão foram convidados para participar da Pet South América (uma grande feira do mercado pet) e foi lá que conheci os dois e decidi contar a história de Chopinho aqui no blog.

Para Yeda, depois de Chopinho, tudo mudou. “Passei a ver tudo com outros olhos, não só os cães, mas a vida. Não consigo ver minha vida sem ele, nem imaginar como teriam sido esses últimos 13 anos sem ele. Ele me ensinou muito. Não dá para descrever esse amor”, emociona-se.
Com uma voz carregada de amor e ternura, Yeda fala de Chopinho. É essa mesma paixão que a impulsiona a encorajar a adoção de animais com deficiência. “Se você tiver essa chance, não a desperdice”, ela implora. “É uma experiência maravilhosa e que transformará sua vida para sempre”.

[Todas as fotos foram enviadas pela tutora; foto profissional: Ruan Moretto]