Levamos uma vida corrida e moramos em espaços cada vez menores. E a rotina dos nossos bichos fica como nessa história?
Se você nunca ouviu falar em Enriquecimento Ambiental (EA), leia essa história até o fim que você vai aprender e se inspirar. O termo é elegante, e o conceito, essencial para a vida dos cães e gatos que compartilham dos nossos lares.
Enriquecimento Ambiental nada mais é do que enriquecer a vida dos nossos animais de estímulos ambientais, sociais, sensoriais, cognitivos e alimentares para que eles tenham a oportunidade de expressar comportamentos naturais da sua espécie.
Ou seja, tornar a vida dos bichos em casa mais próxima daquilo que seria na natureza, quando eles não eram domesticados.
Caçar, forragear, cavar, farejar, roer, marcar território, entocar-se etc são alguns hábitos naturais dos canídeos.
Permitir que nossos cães sejam os bichos que são é fundamental para o bem-estar e a saúde deles. Até mesmo aqueles peludinhos e fofinhos que parecem de pelúcia precisam de enriquecimento ambiental tanto quanto qualquer outro cão.
É por isso que quem nos mostra como colocar o EA em prática é Roger, o maltês de 4 anos e 3,6 kg de Germanna e Diego. Provando que o fato de ser pequeno e morar em apartamento não precisa – nem deve – fazer do cachorro um animal sedentário, triste e estressado.
Vamos ver como aplicar isso no dia a dia pode ser mais simples do que parece.
Ah e os humanos também se beneficiam um bocado disso tudo.
Uma vida enriquecida de estímulos
Roger é “filho” único, mora em um apartamento de 97 metros quadrados, mas isso não o impede de ter uma verdadeira vida de cachorro. Ele segue uma rotina que atende suas demandas e se encaixa na rotina de seus tutores.
Logo pela manhã, tem a primeira refeição, seguida de alguma atividade de EA – caça ao petisco, por exemplo – e mais brincadeiras. À tarde, segundo Germanna, ele não quer papo com ninguém. É a hora do descanso. “Ele vai pra cama dele ou para a ‘caverna’, como eu chamo embaixo do sofá, e só quer contato com alguém para o passeio, depois das 18h”.
O passeio de Roger dura cerca de uma hora, e os tutores procuram variar os locais. Essa é a atividade que não pode faltar na rotina dele. “Aqui, os passeios são sagrados! Em dias de muita chuva, saímos para o shopping ou pra casa dos meus sogros que tem mais espaço. Se não der certo nenhuma dessas opções, as brincadeiras pelo apartamento e os desidratados entram em ação”, conta.
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Para finalizar o dia, mais uma refeição e, em seguida, uma noite de sono tranquila.
Estresse e comportamento
Engana-se quem pensa que os cães não sofrem com tédio e estresse. Se não tiverem o que fazer dentro de nossas casas, por que não ficarão entediados e estressados, assim como nós ficamos?
A falta de atividades inerentes à natureza canina pode levar os cães a direcionar seu acúmulo de energia para comportamentos anormais, como automutilação, coprofagia (comer fezes), monta compulsiva, excesso de lambedura (de si mesmo ou de uma pessoa ou coisa), latir e destruir em excesso.
Roger passou por uma fase de roer os móveis, o pesadelo da mãe arquiteta – de toda mãe, aliás. E segundo ela, o comportamento indesejado foi revertido com o redirecionamento do foco de Roger dos móveis para os mordedores naturais.
“Percebo claramente que quando faço menos atividades por causa do meu dia a dia mesmo, ele fica mais entediado e começa a apresentar lambedura de pata. Isso já faz acender um sinal vermelho em casa de que a rotina dele está sendo deixada de lado”, comenta.
Por que fazer EA?
Ao expressar comportamentos naturais, ocorre a transmissão de neurotransmissores e hormônios da felicidade, que reduzem o estresse, elevam o bem-estar e reduzem os comportamentos anormais.
Todo cachorro precisa de atividades rotineiras. Quais atividades, com que frequência e intensidade? Isso vai depender de fatores, como porte, idade, raça, personalidade do seu cão, condições de saúde, entre outros.
Como proporcionar um ambiente enriquecido
Não é preciso mirabolar para proporcionar novos estímulos a seu cão e ativar o cérebro dele. A forma como você oferece a comida já é uma ótima maneira de botar o cachorro para trabalhar.
Germanna oferta as refeições de Roger, que come alimentação natural cozida, em tabuleiros ou comedouros lentos. Tem quem sinta pena ao ver um cachorro se esforçar para comer. Mas, na natureza, a comida não vem no pote. Cães têm DNA de caçadores e, por mais que hoje eles não precisem mais caçar, lhes dar desafios para alcançar a comida traz benefícios para o cérebro.
Para Roger, os petiscos sempre são oferecidos como recompensa, nunca de graça. “Costumo enrolar carne desidratada em paninhos, dou um nó e coloco em vasilhas plásticas. Para comer, ele tem que abrir e desfazer o nó. Aqui nenhuma vasilha ou garrafa plástica é descartada antes de passar por ele”, detalha.
Roger tira de letra, não fica sem comer, não. É claro que, para chegar a esse nível de dificuldade, os desafios iniciais precisam ser bem básicos. É assim, começa de forma fácil para dificultar gradativamente.
Os passeios, como já vimos, são essenciais. É nessa hora que os cães botam o focinho para funcionar e fazem várias conexões cerebrais. Farejar leva os cães para outro mundo, o mundo deles, e é condição indispensável à sua saúde. “No passeio, quando fareja, Roger nem dá muita atenção para o que tá acontecendo ao redor, criança, outros cachorros… Se o focinho tá no chão, ele esquece de tudo. Na praia e no sítio, ele se acaba”, afirma Germanna.
Outras formas de EA
Há dezenas de formas de enriquecer a vida do seu cão, em todos os aspectos e fazendo-o exercitar cada sentido (lembrando que tudo isso vale para os gatos também, bastando adequar cada coisa às necessidades da espécie e às preferências do indivíduo):
- oferecer alimentos de sabores e texturas diferentes (olfato, paladar);
- proporcionar oportunidades de forragear, ação de explorar e buscar por alimentos (olfato, mental);
- treinar coisas novas (cognitivo, físico);
- oferecer coisas apropriadas para roer, como mordedores e desidratados naturais (físico, mental);
- caminhar por diferentes tipos de chão, como grama, terra, areia (tato);
- o descanso também é sagrado;
- garantir interações positivas com animais, pessoas e locais.
E por falar em interações positivas, Roger vai pra creche 2 vezes por semana em dias alternados. Ele é um cão sociável, que costuma se dar bem com outros cães e que passou por avaliação comportamental e adaptação na creche (importantíssimo!).
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É preciso, no entanto, respeitar o gosto e os limites do cachorro, além de conhecer bem seu perfil. Nem todo cão tem perfil para frequentar creche, por exemplo. Mas não quer dizer que ele não possa ter a rotina enriquecida de diversas outras maneiras.
Casa com Bicho deseja que você se inspire nesse exemplo de dedicação. Essa é a verdadeira vida de cão que todo cachorro merece.
Ah! E se você quiser saber outras formas de enriquecer a vida do seu cão, leia também: 5 fatores essenciais para seu cão ser mais feliz
(Fotos cedidas pela tutora Germanna)